Friday, September 29, 2017

La Gaste Forêt

Era dupla a floresta:
tinha um lado florido
e tinha um outro lado
mais sombrio
e esquecido

Tuesday, September 26, 2017

Vidas



Afinal quem nos teceu a vida
não a teceu inteira:
teceu-a com remendos
teceu-a com farrapos
alguns mais coloridos
outros
mais apagados

Wednesday, September 13, 2017

De Noite

E de noite o que farás?
Será uma jantarada?
Será mais uma noitada?
Ou só o tempo a passar?

Friday, September 8, 2017

Desertos...

Se eu tivesse um deserto, como seria?
Um deserto vazio, macio, um tapete de noite onde eu pudesse estender-me
e ouvir cantar as estrelas...
Não há desertos assim.

Monday, August 21, 2017


Mulheres
(para a Cristina Gonçalves)

Uma mulher sentada
com um livro no colo.
O livro está aberto,
folheado.
A mulher
vê a vida,
olha em frente
e
e aguarda

Friday, February 10, 2017

Fernando Pessoa em de-bate!

Discute-se hoje Fernando Pessoa e a sua heteronimia. Não, não ponho acento, não digo heteronímia!
Discute-se: ele é um todo, que conscientemente se desmultiplica, obedecendo a uma ideia muito sua, fundadora do nosso Modernismo, ou é um amontoado de fracturas do ser- e -pensar-ser, num modo inovador de existência?
Pessoa existe? Ou apenas finge, para que se julgue que sim, existe, insiste, existe - e assim por diante, num engano de alma ledo e cego? E morre cedo...
Não arrumou os papéis, os montões que deixou para uma posteridade que agora se entretém a discutir.
Discutir.
Não bastaria ler, lê-lo, para que ele existisse, como era seu desejo? Ser lido por muitos, ser lido por todos.
É o que deseja um escritor, ser lido, mais do que entendido, pois o entendimento será produto de modas, de tempos, de ocasiões, as mais diversas, como esta de agora.
Pessoa, nesta posteridade, ganhou uma outra vida.
Faltava-lhe, foi desejada, foi procurada e provocada - aí está a sua heteronimia, agora pela afirmação de outros, muitos, todos, ou quase todos.
E não, eu não ponho esse acento!